Organização de código

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À medida em que um software cresce em tamanho e funcionalidades, seu código-fonte deve ser organizado corretamente para facilitar sua compreensão, manutenção e evolução. É importante quebrar o código-fonte em arquivos separados, dividindo-o de acordo com os módulos e/ou funcionalidades do sistema.

O método usual de organização de código em C consiste em dividir o programa em módulos que são vistos como “bibliotecas”, provendo funcionalidades para a construção do programa principal. O programa principal deve usar as funcionalidades desses módulos e permanecer o mais compacto e abstrato possível.

Um programa em C é estruturado em arquivos de código (extensão .c) e arquivos de cabeçalho (header, extensão .h). Os arquivos de código contêm implementações concretas, enquanto os de cabeçalho contêm protótipos de funções e os tipos de dados necessários a esses protótipos.

Dado um arquivo cpx.c contendo funções e tipos de dados para manipular números complexos, o arquivo cpx.h deve ser visto como a definição da interface para outros arquivos C usarem as funcionalidades implementadas por cpx.c.

Com isso, funções e tipos que são usados somente dentro de cpx.c não precisam (nem devem) aparecer no arquivo de interface cpx.h.

Ao dividir o código-fonte em arquivos separados, alguns cuidados devem ser tomados:

Maldições imperdoáveis :-X:
  • fazer inclusão de arquivos “.c” (#include “arquivo.c”)
  • colocar código real (for, if, while, …) em arquivos de cabeçalho 1)

Exemplo

Este exemplo implementa uma mini-biblioteca de números complexos, ou seja, um conjunto de funções para definir e manipular números complexos2).

O arquivo principal (neste exemplo, exemplo.c) usa funções dessa biblioteca. Para isso, ele deve incluir todos os arquivos de cabeçalho necessários para sua compilação e também deve definir a função main:

exemplo.c
// Demonstraçao da biblioteca simples de números complexos :-)
// Carlos Maziero, DINF/UFPR 2020
 
#include <stdio.h>
#include "cpx.h"
 
int main ()
{
  cpx_t a, b, c, d ;
 
  // (10 + 7i) + (-2 + 4i) = (8 + 11i)
  a = cpx (10, 7) ;
  b = cpx (-2, 4) ;
  c = cpx_sum (a, b);
  printf ("c vale %s\n", cpx_str (c)) ;
 
  // (3 + 2i) * (1 + 4i) = –5 + 14i
  d = cpx_mul (cpx (3, 2), cpx (1, 4));
  printf ("d vale %s\n", cpx_str (d)) ;
}
Como o arquivo exemplo.c não define funções (ou estruturas, tipos, etc) que serão usadas em outros arquivos do programa, não se deve criar um arquivo exemplo.h.

Nossa “biblioteca” de números complexos é implementada pelos arquivos cpx.c e cpx.h.

O arquivo de cabeçalho cpx.h deve declarar somente informações públicas: os tipos de dados e protótipos das funções que devem ser conhecidas por quem irá utilizar as funcionalidades da biblioteca:

cpx.h
// Biblioteca simples de números complexos :-)
// Carlos Maziero, DINF/UFPR 2020
 
#ifndef __CPX__
#define __CPX__
 
// estrutura de um número complexo
typedef struct {
  float r, i;   // componentes real e imaginária
} cpx_t ;
 
// define o valor de um complexo
cpx_t cpx (float r, float i) ;
 
// operações aritméticas entre dois complexos
cpx_t cpx_sum (cpx_t a, cpx_t b) ;
cpx_t cpx_sub (cpx_t a, cpx_t b) ;
cpx_t cpx_mul (cpx_t a, cpx_t b) ;
cpx_t cpx_div (cpx_t a, cpx_t b) ;
 
// devolve os componentes de um número complexo
float cpx_real (cpx_t c) ;
float cpx_imag (cpx_t c) ;
 
// gera uma string a partir de um número complexo
char* cpx_str (cpx_t c) ;
 
// outras operações
// ...
 
#endif

Deve-se observar o uso das macros de pré-compilação #ifndef e #define. Elas constituem uma include guard, usada para evitar a repetição das definições, caso o mesmo arquivo de cabeçalho seja incluído múltiplas vezes em diferentes locais do código.

Por sua vez, o arquivo cpx.c contém as informações privadas da biblioteca (estruturas de dados internas, variáveis globais) e as implementações das funções definidas em cpx.h. Esse arquivo deve incluir todos os cabeçalhos necessários à implementação das funções.

cpx.c
// Biblioteca simples de números complexos :-)
// Carlos Maziero, DINF/UFPR 2020
 
#include <stdio.h>
#include <stdlib.h>
#include <math.h>
#include "cpx.h"
 
// conversão de coordenadas polares em retangulares.
// Obs: esta é uma função interna; com o modificador "static",
// ela só pode ser acessada por código dentro deste arquivo.
static void polar_to_rect (float r, float a, float *x, float *y)
{
  // implementação da função
  // ...
}
 
// define os valores de um número complexo
cpx_t cpx (float r, float i) 
{
  cpx_t new = {r, i} ;
  return (new) ;
}
 
// soma de dois complexos
cpx_t cpx_sum (cpx_t a, cpx_t b) 
{
  cpx_t sum ;
  sum.r = a.r + b.r ;
  sum.i = a.i + b.i ;
  return (sum) ;
}
 
// diferença de dois complexos
cpx_t cpx_sub (cpx_t a, cpx_t b) 
{
  cpx_t sum ;
  sum.r = a.r - b.r ;
  sum.i = a.i - b.i ;
  return (sum) ;
}
 
// produto de dois complexos
cpx_t cpx_mul (cpx_t a, cpx_t b) 
{
  cpx_t prod ;
  prod.r = a.r * b.r - a.i * b.i ;
  prod.i = a.r * b.i + a.i * b.r ;
  return (prod) ;
}
 
// implementação das demais funções
// ...

Em resumo:

Para compilar:

cc -Wall exemplo.c cpx.c -o exemplo

O arquivo cpx.c também pode ser compilado separadamente, gerando um arquivo-objeto cpx.o que poderá ser ligado ao arquivo exemplo.o posteriormente:

cc -Wall -c cpx.c

cc -Wall exemplo.c cpx.o -o exemplo

Essa organização torna mais simples a construção de bibliotecas e a distribuição de código binário para incorporação em outros projetos (reuso de código). Além disso, essa estruturação agiliza a compilação de grandes projetos, através do sistema Make.

1)
Exceto quando se tratar de funções ''inline''
2)
Esta biblioteca é inútil, pois o padrão C99 já inclui o suporte a números complexos …