Aqui serão descritas algumas das funções mais usuais para operações de entrada/saída em arquivos na linguagem C. A maioria das funções aqui descritas está declarada no arquivo de cabeçalho stdio.h
:
#include <stdio.h>
Um arquivo armazena uma sequência de bytes, cuja interpretação fica a cargo da aplicação. Contudo, para facilitar a manipulação de arquivos, a linguagem C considera dois tipos de arquivos:
\n
ou \r
e usando uma codificação como ASCII, ISO-8859-1 ou UTF-8. São usados para armazenar informação textual, como código-fonte, páginas Web, arquivos de configuração, etc.As operações sobre arquivos em C podem ser feitas de duas formas:
FILE*
. Na sequência deste texto serão apresentadas as funções de acesso usando streams, que são o padrão da linguagem C e valem para qualquer sistema operacional. Explicações sobre entrada/saída usando descritores UNIX podem ser encontradas nesta página.
Cada programa em execução tem acesso a três arquivos padrão definidos no arquivo de cabeçalho stdio.h
, que são:
FILE* stdin
: a entrada padrão, normalmente associada ao teclado do terminal, usada para a entrada de dados do programa (scanf
, por exemplo).FILE* stdout
: a saída padrão, normalmente associada à tela do terminal, usada para as saídas normais do programa (printf
, por exemplo).FILE* stderr
: a saída de erro, normalmente associada à tela do terminal, usada para mensagens de erro.Esses três arquivos não precisam ser abertos, eles estão prontos para uso quando o programa inicia. Geralmente eles estão associados ao terminal onde o programa foi lançado, mas podem ser redirecionados pelo shell (mais detalhes aqui).
Antes de ser usado, um arquivo precisa ser “aberto” pela aplicação (com exceção dos arquivos padrão descritos acima, que são abertos automaticamente). Isso é realizado através da chamada fopen
:
FILE* fopen (const char *filename, const char *mode)
Abre um arquivo indicado por filename
e retorna um ponteiro para o stream. A string mode
define o modo de abertura do arquivo:
r
: abre um arquivo existente para leitura (read).w
: abre um arquivo para escrita (write). Se o arquivo já existe, seu conteúdo é descartado. Senão, um novo arquivo vazio é criado.a
: abre um arquivo para concatenação (append). Se o arquivo já existe, seu conteúdo é preservado e as escritas serão concatenadas no final do arquivo. Senão, um novo arquivo vazio é criado.r+
: abre um arquivo existente para leitura e escrita. O conteúdo anterior do arquivo é preservado e o ponteiro é posicionado no início do arquivo.w+
: abre um arquivo para leitura e escrita. Se o arquivo já existe, seu conteúdo é descartado. Senão, um novo arquivo vazio é criado.a+
: abre um arquivo para escrita e concatenação. Se o arquivo já existe, seu conteúdo é preservado e as escritas serão concatenadas no final do arquivo. Senão, um novo arquivo vazio é criado. O ponteiro de leitura é posicionado no início do arquivo, enquanto as escritas são efetuadas no seu final.a
e a+
sempre escreverão no final do arquivo, mesmo se o cursor do mesmo for movido para outra posição.
Fecha um stream. Os dados de saída em buffer são escritos, enquanto dados de entrada são descartados:
int fclose (FILE* stream)
Fecha e abre novamente um stream, permitindo alterar o arquivo e/ou modo de abertura:
FILE* freopen (const char *filename, const char *mode, FILE *stream)
Exemplo: abrindo o arquivo x
em leitura:
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> int main () { FILE* arq ; arq = fopen ("x", "r") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir arquivo x") ; exit (1) ; // encerra o programa com status 1 } fclose (arq) ; exit (0) ; }
Exemplo: abre o arquivo x
em leitura/escrita, criando-o se não existir:
Arquivos-texto contêm sequências de bytes representando um texto simples (sem formatações especiais, como negrito, itálico, etc), como código-fonte ou uma página em HTML, por exemplo.
Em um arquivo-texto, os caracteres do texto são representados usando uma codificação padronizada, para que possam ser abertos por diferentes aplicações em vários sistemas operacionais. As codificações de caracteres mais usuais hoje são:
Além dos caracteres em si, as codificações geralmente suportam caracteres de controle, que permitem representar algumas estruturas básicas de formatação do texto, como quebras de linha. Alguns caracteres de controle presentes nas codificações acima são:
nome | valor | representação |
---|---|---|
null | 0 | NUL \0 ^@ |
bell | 7 | BEL \a ^G |
backspace | 8 | BS \b ^H |
tab | 9 | HT \t ^I |
line feed | 10 | LF \n ^J |
form feed | 12 | FF \f ^L |
carriage return | 13 | CR \r ^M |
escape | 27 | ESC ^[ |
Estas funções permitem gravar caracteres ou strings simples em streams.
int fputc (int c, FILE* stream) // escreve o caractere c no stream int putc (int c, FILE* stream) // idem, implementada como macro int putchar (int c) // idem, em "stdout" int fputs (const char *s, FILE* stream) // escreve a string s no stream int puts (const char *s) // idem, em "stdout"
Um exemplo de uso de operações de escrita simples em arquivo:
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> int main () { FILE *arq ; unsigned char c ; // abre o arquivo em escrita arq = fopen ("ascii.txt", "w+") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir/criar arquivo") ; exit (1) ; } // escreve os caracteres ascii fputs ("caracteres ASCII:", arq) ; for (c = 32; c < 128; c++) { fputc (c, arq) ; fputc (' ', arq) ; } fputc ('\n', arq) ; // fecha o arquivo fclose (arq) ; }
As operações de entrada e saída formatada usam padrões para formatação dos diversos tipos de dados descritos em livros de programação em C e no manual da GLibC.
Escreve dados usando a formatação definida em format
no stream de saída padrão stdout
:
int printf (const char* format, ...)
Idêntico a printf
, usando o stream indicado:
int fprintf (FILE* stream, const char* format, ...)
Similar a printf
, mas a saída é depositada na string str
:
int sprintf (char* str, const char* format, ...)
str
tenha tamanho suficiente para receber a saída; caso contrário, pode ocorrer um buffer overflow com consequências imprevisíveis. As funções snprintf
e asprintf
são mais seguras e evitam esse problema.
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> int main () { FILE *arq ; int i, j ; // abre o arquivo em escrita arq = fopen ("tabuada.txt", "w+") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir/criar arquivo") ; exit (1) ; } // escreve o cabeçalho fprintf (arq, "Tabuada:\n") ; fprintf (arq, " ") ; for (j = 0; j <= 10; j++) fprintf (arq, "%4d", j) ; fprintf (arq, "\n") ; fprintf (arq, " ") ; for (j = 0; j <= 10; j++) fprintf (arq, "----") ; fprintf (arq, "\n") ; // escreve as linhas de valores for (i = 0; i <= 10; i++) { fprintf (arq, "%4i | ", i) ; for (j = 0; j <= 10; j++) fprintf (arq, "%4d", i*j) ; fprintf (arq, "\n") ; } // fecha o arquivo fclose (arq) ; }
Estas funções permitem ler caracteres isolados de um stream. O valor lido é um int
indicando o caractere lido ou então o valor especial EOF
(End-Of-File):
int fgetc (FILE* stream) // Lê o próximo caractere do stream int getc (FILE* stream) // Idem, como macro (mais rápida) int getchar () // Idem, sobre stdin
Para a leitura de strings :
char* gets (char *s)
Lê caracteres de stdin
até encontrar um newline e os armazena na string s
. O caractere newline é descartado.
gets
é perigosa, pois não provê segurança contra overflow na string s
. Sempre que possível, deve ser usada a função fgets
ou getline
.
Lê uma linha de caracteres do stream e a deposita na string s
. O tamanho da linha é limitado em count-1
caracteres, aos quais é adicionado o '\0
' que marca o fim da string. O newline é incluso.
char* fgets (char *s, int count, FILE *stream)
O exemplo a seguir lê e numera as 10 primeiras linhas de um arquivo:
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> #define LINESIZE 1024 int main () { FILE *arq ; int i ; char line[LINESIZE+1] ; // abre o arquivo em leitura arq = fopen ("dados.txt", "r") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir arquivo") ; exit (1) ; } // lê as 10 primeiras linhas do arquivo for (i = 0; i < 10; i++) { fgets (line, LINESIZE, arq) ; printf ("%d: %s", i, line) ; } // fecha o arquivo fclose (arq) ; }
Lê dados do stream stdin
de acordo com a formatação definida na string format
. Os demais argumentos são ponteiros para as variáveis onde os dados lidos são depositados. Retorna o número de dados lidos ou EOF
:
int scanf (const char* format, ...)
Similar a scanf
, mas usando como entrada o stream indicado:
int fscanf (FILE* stream, const char* format, ...)
Similar a scanf
, mas usando como entrada a string s
:
int sscanf (const char* s, const char* format, ...)
O exemplo a seguir lê 10 valores reais de um arquivo:
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> int main () { FILE *arq ; int i ; float value ; // abre o arquivo em leitura arq = fopen ("numeros.txt", "r") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir arquivo") ; exit (1) ; } // lê os 10 primeiros valores do arquivo for (i = 0; i < 10; i++) { fscanf (arq, "%f", &value) ; printf ("%d: %f\n", i, value) ; } // fecha o arquivo fclose (arq) ; }
Experimente executá-lo com os dados de entrada abaixo. Pode explicar o que acontece?
10 21 4 23.7 55 -0.7 6 5723.8, 455 1, 2, 3, 4
scanf
considera espaços (espaços em branco, tabulações e novas linhas) como separadores default dos campos de entrada. O arquivo numeros.txt
contém uma vírgula, que não é um separador, então a leitura não pode prosseguir até que a vírgula seja lida.
Um bloco de leitura mais robusto, imune a esse problema, seria:
// lê os 10 primeiros valores do arquivo i = 0 ; while (i < 10) { ret = fscanf (arq, "%f", &value) ; // fim de arquivo ou erro? if (ret == EOF) break ; // houve leitura? if (ret > 0) { printf ("%d: %f\n", i, value) ; i++ ; } // não houve, tira um caractere e tenta novamente else fgetc (arq) ; }
Muitas vezes deseja-se ler os dados de um arquivo até o fim, mas não se conhece seu tamanho a priori. Para isso existem funções e macros que indicam se o final de um arquivo foi atingido.
A função recomendada para testar o final de um arquivo é feof(stream)
. Ela retorna 0 (zero) se o final do arquivo não foi atingido. Eis um exemplo de uso:
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> #define LINESIZE 1024 int main () { FILE *arq ; int i ; char line[LINESIZE+1] ; // abre o arquivo em leitura arq = fopen ("dados.txt", "r") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir arquivo") ; exit (1) ; } // lê TODAS as linhas do arquivo i = 1 ; fgets (line, LINESIZE, arq) ; // tenta ler uma linha while (! feof (arq)) // testa depois de tentar ler! { printf ("%d: %s", i, line) ; fgets (line, LINESIZE, arq) ; // tenta ler a próxima linha i++ ; } // fecha o arquivo fclose (arq) ; }
feof()
indica TRUE
somente após o final do arquivo ter sido atingido, ou seja, após uma leitura falhar. Por isso, feof()
deve ser testada depois da leitura e não antes.
A macro EOF
representa o valor devolvido por funções de leitura de caracteres como getchar
e fgetc
quando o final do arquivo é atingido:
#include <stdio.h> #include <stdlib.h> #define LINESIZE 1024 int main () { FILE *arq ; char c ; // abre o arquivo em leitura arq = fopen ("dados.txt", "r") ; if ( ! arq ) { perror ("Erro ao abrir arquivo") ; exit (1) ; } // lê os caracteres até o fim do arquivo c = fgetc (arq) ; // tenta ler um caractere while (c != EOF) // não é o fim do arquivo { printf ("%c ", c) ; // tenta ler o próximo c = fgetc (arq) ; } // fecha o arquivo fclose (arq) ; }
Por fim, esta função retorna um valor não nulo se ocorreu um erro no último acesso ao stream:
int ferror (FILE* stream)
Além de ajustar o indicador de erro do stream, as funções de acesso a streams também ajustam a variável errno
.
minusc.txt
e escrever um arquivo maiusc.txt
contendo o mesmo texto em maiúsculas.mycp
para fazer a cópia de um arquivo em outro: mycp arq1 arq2
. Antes da cópia, arq1
deve existir e arq2
não deve existir. Mensagens de erro devem ser geradas caso essas condições não sejam atendidas ou o nome dado a arq2
seja inválido. Para acessar os nomes dos arquivos na linha de comando use os parâmetros argc
e argv
(veja aqui).grep
do UNIX imprime na saída padrão (stdout) as linhas de um arquivo de entrada que contenham uma determinada string informada como parâmetro. Escreva esse programa em C (dica: use a função strstr
).Mais exercícios no capítulo 11 da apostila do NCE/UFRJ.