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prog2:alocacao_de_memoria

Alocação de memória

O espaço de endereços de um processo em execução é dividido em várias áreas distintas. As mais importantes são:

  • Text: contém o código do programa e suas constantes. Esta área é alocada durante a chamada exec e permanece do mesmo tamanho durante toda a vida do processo.
  • Data e BSS: são as áreas onde o processo armazena suas variáveis globais e estáticas. Têm tamanho fixo durante a execução do processo.
  • Stack: contém a pilha de execução, onde são armazenadas os parâmetros, endereços de retorno e variáveis locais de funções. Pode variar de tamanho durante a execução do processo.
  • Heap: contém áreas de memória alocadas a pedido do processo, durante sua execução. Varia de tamanho durante a vida do processo.

Um programa em C suporta três tipos de alocação de memória:

  • A alocação estática ocorre quando são declaradas variáveis globais ou estáticas; geralmente usa a área Data.
  • A alocação automática ocorre quando são declaradas variáveis locais e parâmetros de funções. O espaço para a alocação dessas variáveis é reservado quando a função é invocada, e liberado quando a função termina. Geralmente é usada a pilha (stack).
  • A alocação dinâmica, quando o processo requisita explicitamente um bloco de memória para armazenar dados; o controle das áreas alocadas dinamicamente é manual ou semi-automático: o programador é responsável por liberar as áreas alocadas dinamicamente. A alocação dinâmica geralmente usa a área de heap.

Alocação estática

A alocação estática ocorrem com variáveis globais (alocadas fora de funções) ou quando variáveis locais (internas a uma função) são alocadas usando o modificador static. Uma variável alocada estaticamente mantém seu valor durante toda a vida do programa, exceto quando explicitamente modificada.

Exemplo:

estatica.c
#include <stdio.h>
 
int a = 0 ;  // variável global, aloc. estática
 
void incrementa ()
{
          int b = 0 ; // variável local, aloc. automática
   static int c = 0 ; // variável local, aloc. estática
 
   printf ("a: %d, b: %d, c: %d\n", a, b, c) ;
   a++ ;
   b++ ;
   c++ ;
}
 
int main ()
{
  int i ;
 
  for (i=0; i<5; i++)
    incrementa() ;
 
  return 0 ;
}

A execução desse código gera a seguinte saída:

a: 0, b: 0, c: 0
a: 1, b: 0, c: 1
a: 2, b: 0, c: 2
a: 3, b: 0, c: 3
a: 4, b: 0, c: 4

As variáveis com alocação estática (a e c) são alocadas e inicializadas uma única vez, portanto seus valores se preservam entre chamadas consecutivas da função incrementa. Por outro lado, a variável com alocação automática (b) é alocada e descartada a cada execução da função, portanto seu valor não é preservado.

Alocação automática

Por default, as variáveis definidas dentro de uma função (variáveis locais e parâmetros) são alocadas de forma automática na pilha de execução do programa (stack) a cada chamada da função, sendo descartadas quando a função encerra. Isso é o que ocorre com a variável b do código anterior.

A pilha de execução do programa normalmente é pequena (8 MB ou menos). Por isso, a tentativa de alocar variáveis locais muito grandes pode resultar em erro de compilação ou de execução (SIGSEGV - Segmentation Fault). Para tais situações devem ser usadas variáveis globais (estáticas) ou variáveis dinâmicas.

Se a função for chamada recursivamente, as variáveis locais e parâmetros serão novamente alocados na pilha, em áreas distintas para cada nível de recursão. Isso permite preservar os valores anteriores dos mesmos no retorno dos níveis de recursão.

O exemplo a seguir permite observar a existência de múltiplas instâncias de variáveis locais (no caso, o parâmetro n) em chamadas recursivas:

fatorial.c
#include <stdio.h>
 
long int fatorial (int n)
{
  long int parcial ;
 
  printf ("antes:  n: %d\n", n) ;
 
  if (n < 2)
    parcial = 1 ;
  else
    parcial = n * fatorial (n - 1) ;
 
  printf ("depois: n: %d, parcial: %ld\n", n, parcial) ;
 
  return (parcial) ;
}
 
int main ()
{
  printf ("Fatorial (6) = %ld\n", fatorial (6)) ;
  return 0 ;
}

A execução gera o seguinte resultado:

antes:  n: 6
antes:  n: 5
antes:  n: 4
antes:  n: 3
antes:  n: 2
antes:  n: 1
depois: n: 1, parcial: 1
depois: n: 2, parcial: 2
depois: n: 3, parcial: 6
depois: n: 4, parcial: 24
depois: n: 5, parcial: 120
depois: n: 6, parcial: 720
Fatorial (6) = 720

O padrão C99 permite a alocação automática de vetores de tamanho variável, ou seja, definidos em tempo de execução. O exemplo a seguir ilustra esse conceito:

int my_function (int n)
{
   char name[n] ;  // aloca string com tamanho "n"
 
   ...
}

Alocação dinâmica

Na alocação dinâmica, o programa solicita explicitamente áreas de memória ao sistema operacional, as utiliza e depois as libera quando não forem mais necessárias, ou quando o programa encerrar. As requisições de memória dinâmica são geralmente alocadas na área de memória denominada heap.

Por default, o compilador gcc gera código que pode alocar memória até 4GB, mesmo em máquinas de 64 bits com mais memória disponível. Para gerar código executável com capacidade para alocar memória dinamicamente além desse limite, devem ser usados flags de compilação específicos, como -mcmodel=medium ou -mcmodel=large.

Alocação simples

A memória pode ser alocada dinamicamente através da chamada malloc:

#include <stdlib.h>
void * malloc (size_t size)

Esta função aloca uma nova região com size bytes de tamanho e retorna um ponteiro para o início da mesma (ou 0 em caso de erro). O conteúdo dessa nova área é indefinido (ou seja, pode conter “lixo”).

Exemplo de uso:

struct mystruct *ptr;
...
ptr = malloc (sizeof (struct mystruct));
if (ptr == 0) abort (); // caso a alocação não tenha ocorrido

Liberação

A chamada free deve ser invocada para liberar uma área de memória previamente alocada dinamicamente:

#include <stdlib.h>
void free (void *ptr)

Esta função libera um bloco de memória previamente alocado, apontado por ptr. É importante observar que o ponteiro ptr continua apontando para a área liberada, por isso é aconselhável mudar seu valor para NULL após a liberação:

ptr = malloc (1024) ;
...
free (ptr) ;
ptr = NULL ; // não é obrigatório, mas aconselhado

A memória alocada por um programa é automaticamente liberada quando sua execução encerra. Por isso, o uso da chamada free() não é obrigatório no final do programa. Contudo, é recomendado utilizá-lo sempre, para desenvolver o hábito salutar de sempre liberar uma área alocada.

Redimensionamento de área alocada

#include <stdlib.h>
void * realloc (void *ptr, size_t newsize)

Esta função redimensiona o bloco previamente alocado apontado por ptr para o novo tamanho newsize. Retorna o novo endereço do bloco, que pode ser diferente do anterior, caso tenha sido necessário mudá-lo de lugar (o conteúdo original do bloco é preservado nesse caso ou em caso de erro).

Alocação de vetor

#include <stdlib.h>
void * calloc (size_t count, size_t eltsize)

Esta função aloca um bloco de memória de tamanho suficiente para conter um vetor com count elementos de tamanho eltsize cada um. O conteúdo do bloco alocado é preenchido por zeros.

Exemplo:

float *v ;
int i ;
 
v = calloc (10000, sizeof(float)) ;
 
for (i=0; i< 10000; i++)
  v[i] = 1.0 / (i + 1) ;

Alocação semiautomática

#include <stdlib.h>
void * alloca (size_t size)

Esta função provê um mecanismo de alocação dinâmica semi-automática, ou seja, o bloco é alocado manualmente, mas será liberado automaticamente ao encerrar a função onde ele foi alocado. O valor de retorno da chamada é o endereço de um bloco de tamanho size bytes, alocado na pilha da função atual (como se fosse uma variável local).

Inicialização

O conteúdo inicial de variáveis não-inicializadas depende da forma como são alocadas. A tabela a seguir resume as principais possibilidades:

tipo de alocação situação conteúdo inicial
estática variável global zeros
estática variável local estática zeros
automática variável local indefinido (“lixo”)
dinâmica por malloc() indefinido (“lixo”)
dinâmica por realloc() indefinido (“lixo”)
dinâmica por calloc() zeros
semiautomática por alloca() indefinido (“lixo”)

Obviamente, os “zeros” acima devem ser interpretados de acordo com o tipo de variável: um ponteiro global será inicializado como NULL; uma string global terá tamanho zero, e assim por diante.

Alinhamento de memória

Os blocos alocados pelas funções acima geralmente iniciam em um endereço múltiplo de 8 bytes em plataformas de 32 bits. Caso seja necessário garantir a alocação alinhada, obtendo blocos iniciando em múltiplos de 8, 16, 32, 64 bytes, etc, a função a seguir está disponível:

#include <malloc.h>
void * memalign (size_t boundary, size_t size)

Aloca um bloco de tamanho size cujo endereço inicial é um múltiplo de boundary (que deve ser 2n). Retorna o endereço do bloco alocado, que pode ser liberado mais tarde através da função free. Ver também a função posix_memalign.

Exercícios

  1. Escreva um programa que aloque dinamicamente um vetor v e o preencha com v[i] = 100*i, sendo que o número de elementos do vetor é lido do teclado. A área de memória alocada deve ser definida em função do tamanho do vetor.
  2. Mude o programa anterior, escrevendo funções separadas para a) alocar o vetor e preenchê-lo com zeros; b) preencher o vetor; e c) imprimir o vetor.
  3. Escreva um programa que aloque dinamicamente uma matriz m e a preencha com m[i][j] = i+j, sendo que o número de linhas e colunas são lidos do teclado. A área de memória alocada deve ser definida em função do tamanho da matriz. Este exercício não é tão simples quanto parece, veja sugestões de resolução nesta página.
  4. Mude o programa anterior, escrevendo funções separadas para a) alocar a matriz; b) preencher a matriz; e c) imprimir a matriz.
  5. Escreva um programa em C para a) criar uma lista encadeada simples com 1000 inteiros (com valores 1, 2, …, 1000); b) percorrer a lista criada, imprimindo o valor contido em cada elemento. Cada elemento da lista encadeada é uma estrutura com dois campos: um valor inteiro e um ponteiro para o próximo elemento.

FIXME Mais exercícios

prog2/alocacao_de_memoria.txt · Last modified: 2019/04/16 15:13 (external edit)